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Geraldo Mazieiro, o Representante que ajudou a construir Brasília

Geraldo Mazieiro, o Representante que ajudou a construir Brasília

Quando Juscelino Kubitschek colocou
em prática o projeto de construir Brasília, em 1956, a principal motivação era transferir
a capital do Brasil para uma região ainda pouco habitada, promovendo o
desenvolvimento do país. Uma das pessoas que conheciam a realidade do local
escolhido para a construção, perto da cidade de Planaltina (GO), era o belo-horizontino
Geraldo Mazieiro, que atuava como Representante Comercial na região. Ele lembra
que, na época, as estradas ainda eram sem asfalto, o que dificultava a chegada
ao local.

Naquele momento de
transformações, Mazieiro foi um dos fornecedores de material de construção e
tintas para erguer a nova capital do país e contribuiu bastante para que todas
essas mudanças ocorressem. “Como eu já trabalhava no ramo, eu já conhecia as
empresas que foram construir Brasília. Naquela época, eu vendi muito mesmo”, relembra
Geraldo, afirmando que o período foi de muito êxito em sua profissão.

foto de geraldo mazieiro
Geraldo Mazieiro atua como Representante Comercial desde 1953 (foto: Core-MG)

A sua carreira como Representante
teve início poucos anos antes, em 1953, mas ele teve o primeiro contato com as
tintas – que seriam sua mercadoria de trabalho – ainda aos 14 anos, em 1951.
Geraldo trabalhava como fiscal de automóveis e recebeu o convite de um parente
para trabalhar numa fábrica de tintas. A proposta interessou o menino, desde
que ele pudesse continuar no antigo emprego para alcançar um sonho: ter
dinheiro suficiente para comprar uma bicicleta. Assim, Geraldo trabalhou durante
dia e noite por sete meses, até poder se dedicar exclusivamente ao cargo de
separador de pedidos na empresa de tintas.

Após três anos, ele foi promovido
a vendedor viajante e encarou jornadas pelos estados de Minas Gerais, Goiás e
Espírito Santo. “Uma viagem durava, em média, 30 dias. Naquela época, o Representante
era bem respeitado e valorizado. Tínhamos uma relação muito boa nas cidades que
visitávamos”, afirmou.

Com o passar dos anos, o jovem ampliou
seus horizontes profissionais, mas nunca se desligou do ramo da Representação
Comercial. Em 1958, ele abriu uma fábrica de tintas em BH, com mais dois sócios.
“Fiquei na parte de vendas da empresa. Além de vender a própria tinta, eu representava
produtos relacionados à utilização do nosso produto”, relata. Geraldo se desligou
da empresa há 15 anos.

Atualmente, aos 82 anos e
aposentado, ele administra uma fazenda e ainda é Representante, comercializando
objetos feitos de metais, entre eles, duchas e torneiras. “Como Representante,
criei quatro filhas e me realizei economicamente e profissionalmente”, ressalta.

Desafios atuais da Representação

Com mais de seis décadas na
profissão, Geraldo afirma que hoje é muito mais fácil exercê-la em função da
facilidade de locomoção. “Atualmente, faço as viagens de carro, sozinho, e
consigo visitar três cidades em um dia. Porém, ficou mais difícil em termos de
resultado, devido ao aumento da concorrência e à facilidade de acesso. Para
adquirir uma mercadoria, o cliente não tem problema nenhum. Pelo telefone, ele
pede algo urgente para amanhã. Então, ele não depende tanto do Representante
viajante. Além disso, hoje, quando eu vendo algo, não é na mesma quantidade,
pois a entrega é tão mais fácil que o cliente compra aos poucos”, explica.

Apesar das muitas mudanças no trabalho,
Mazieiro ressalta a importância do Representante Comercial para uma relação
mais profunda da empresa Representada com o cliente. Para ele, o profissional
não deve apenas realizar os pedidos, mas, sim, estabelecer um elo entre a
indústria e o comerciante: “O espelho da empresa é o Representante. Ele deve
ser uma pessoa idônea, de caráter e responsabilidade e, principalmente, criativa”.

Dificuldades de antigamente

Transporte escasso e desconforto. Para Geraldo, essas são as
principais dificuldades enfrentadas pelos Representantes no fim da década de
1950, quando iniciou sua carreira. Confira, a seguir, alguns casos vividos por
ele. “São aventuras que não esqueço. Apesar das dificuldades, foi tudo tão
gostoso que eu tenho saudades”, declara.

Carona na carga de algodão

ilustracao de caminhao“Eu estava há três dias tentando encontrar algum transporte que me trouxesse de
Mato Verde (MG). Foi quando apareceu um caminhão carregado de algodão e com
placa de Uberaba. Eu perguntei ao motorista se dava para ele me levar até
Montes Claros e ele disse ‘Não, eu não carrego estranhos’. Após eu insistir,
ele disse que eu poderia ir só se fosse lá em cima, na carga. Com muita
dificuldade, subi e segui uma viagem de umas seis horas sentado na minha mala.
Quando chegamos em Montes Claros, ele gritou para eu descer. E me cobrou o
valor de uma passagem”.

Varal de fraldas

ilustracao de jipe“As viagens de trem não eram muito agradáveis. Era
impossível ficar no vagão de passageiros. Quando as mães trocavam as fraldas de
pano dos bebês, elas chegavam à janela, sacodiam a fralda e lavava numa lata de
água. Depois, elas abriam uma corda no meio do vagão para pendurá-la. O odor
era quase insuportável. Então, eu viajava na plataforma do trem. Só que ele era
movido à lenha. A brasa queimava a roupa, que ficava toda furada. Mas era
melhor do que ficar lá dentro sufocado”.

Jipe atolado

ilustracao de jipe“Uma vez, eu estava em um jipe na
companhia de um colega, em Rio Verde (GO), e o carro atolou em um rego. Fui
procurar ajuda e encontrei um rastro de carro de boi quando já estava escurecendo.
Fui apalpando a marca e seguindo para ver se encontrava alguém. Até que ouvi
uma música bem longe. Nisso, eu dei de cara com um porco. Nós nos assustamos um
com o outro, e ele saiu correndo. Para o lado que ele foi, eu segui. Cheguei
num lugar com umas cinco casinhas, e um moço parou de tocar sua viola. Ele
olhou assustado para mim. Eu estava com a calça toda rasgada. Expliquei para
ele o que aconteceu e falei que estava com muita fome. A patroa dele apareceu
com um prato de arroz, feijão, ovo e quiabo. Eu nunca tinha comido quiabo
antes, mas foi uma das melhores refeições que fiz. Expliquei para ele como era o
local que o jipe estava atolado e ele disse que sabia onde era e que estava a
24 km de lá. Então, me ofereceu sua casa para passar a noite. Eu falei que
tinha que voltar, por causa do meu amigo. Fomos ao local, tiramos o carro do
rego e voltamos para a casa do moço. Após esse episódio, sempre que íamos nessa
região, voltávamos à casa e levávamos alguns presentes, como doce, freio de
cavalo e biscoitos”.

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